domingo, 15 de novembro de 2009



Outro pintor, já de outro contexto, que me vem à mente é o francês Edouard Manet, por sua inovação e técnica. Já em uma época afetada pelo advento da fotografia, ele não mais buscava o realismo fotográfico em suas pinturas, em termos de técnicas, nem os temas tradicionais aceitos pela academia. Ao invés de pintar uma mulher nua com tons “divinos” que a aproximavam de ninfas, com olhares distantes, juntos de outros elementos clássicos, ele favorecia contrastes mais grosseiros de tons e a colocava nua com o olhar que encarava o observador, em contextos mais reais e mundanos. Isso a trazia para a mesma esfera do espectador e trocava seu ar de deusa pelo de prostituta – figura presente mas não oficialmente aceita na sociedade parisiense. Isso pode ser claramente observada em sua conhecida obra “Olympia” – a qual faz referência à clássica Venus de Urbino, de Ticiano, tão admirada e exposta nos grandes salões de arte em Paris. Olympia, entretanto, não foi apreciada, mas sim rechaçada pela grande maioria da crítica e curadoria.
Em ambos os casos, tanto a clássica de Ticiano quanto a pintura do início do impressionismo de Manet, me fascinam à sua maneira, com suas representações e fundamentações opostas, em contextos diferentes. Ao observá-las sinto que tenho muito a ler e interpretar, e muito elas falam de suas respectivas sociedades, cultos e tradições – pelo endosso ou pela crítica.
Como eu mencionei anteriormente, a arte segue uma cronologia, em que os movimentos se influenciam mutualmente, e se desenvolvem. Por isso conseguimos ver resquícios da arte renascentista italiana em diversos outros momentos da história da arte, como, por exemplo, na arte de Van Dyck ou no impressionismo de Manet. Observe as pinturas:




Manet pegou de Ticiano, o qual pegou de Giorgione o gesto e a pose. Estabelece-se então claramente uma relação entre as pinturas, independentemente do salto de mais de três séculos que separa as clássicas Venus de Urbino e Dresden Venus de Olympia. As mudanças são claras, em termos de tratamento de imagem e mesmo de tema e abordagem.
Olympia foi um quadro que chocou o público, o qual alegou não ser digna de comparação com o grande mestre Ticiano. Convém ressaltar, entretanto, que ao abrir os olhos da Vênus de Giorgione, o próprio Ticiano gerou polêmica na sua época, uma vez que trocava a inocência da deusa adormecida por uma mulher consciente de sua nudez e do seu parceiro, cuja sexualidade feminina se transforma em impulso sexual. A mesma Vênus a qual fora considerada nos salões de Paris do século XIX uma grande obra-prima.
Hoje todas as três são grandes obras primas dos artistas do século passado, cada uma com suas particularidades e inovações.


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