segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Como ler esse blog
domingo, 15 de novembro de 2009
Introdução
Uma vez em um museu de Paris cujo nome não me lembro mais, escutei comentários diante da arte contemporânea do tipo “mas isso é arte?” ou “isso até eu consigo fazer”. O tom de deboche dos visitantes só alimentava as discussões recentes sobre a essência da arte. Qualquer coisa pode ser arte? O que é a arte? O que me intrigou mais é o fato desse grande debate sem resposta só ter ganhado força no universo da arte moderna e contemporânea, exatamente quando a minha relação com a arte – e claramente a desses visitantes – não é mais tão harmônica. Por mais que eu tentasse me abstrair desses comentários, e tentar entender as obras e sua contribuição para a sociedade, eu me sentia cada vez mais perdida e confusa. O fascínio diante do toque dos grandes mestres da pintura, como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Van Gogh, Monet, Degas, Ticiano, Bocciceli, Rubens, Vin Dyck, entre outros, se transformaram em dúvidas, incompreensão, bloqueio ou mesmo indiferença.
É aí então que começo essa aventura rumo ao entendimento da arte contemporânea, para tentar re-despertar o grande interesse pela arte que sempre estivera comigo. E para entendê-la, tracei uma linha que passa pela história da arte desde o renascimento até a arte contemporânea, em apenas algumas palavras, buscando estabelecer conexões entre os diversos momentos da história, através da arte e dos seus respectivos contextos. Para tal feito, devido à enorme complexidade desse campo do conhecimento, escolhi alguns artistas e momentos chaves na história – alguns que explicitam a minha relação anterior com a arte pré-moderna, e outros que representam já a minha busca rumo ao entendimento da arte contemporânea. O meu objetivo é então, além de estabelecer uma comunicação com a arte contemporânea, buscar enxergar na arte de hoje resquícios do passado, de forma a mostrar que a história não apresenta rupturas bruscas, e assim conseguir finalmente compreendê-la.

A riqueza da arte italiana encontra-se hoje espalhada pelos principais museus da Europa. No Louvre também pude observar com grande admiração a diversidade da arte renascentista e perceber que desde os retratos de indivíduos nobres até a pintura de narrações mitológicas ou de eventos corriqueiros da época têm muito a dizer sobre aquele universo e os costumes da época.
Observe esse retrato de Margherita Gonzaga, pintado por Pisanello:

Não consigo dizer qual escola ou qual sala me fascinou mais, as quais eram separadas cronologicamente. Para explicitar a riqueza das obras escolhi falar então sobre o renascimento italiano. Podemos claramente ver nessa arte as diferenças entre cada província italiana da época. Por mais que as cidades hoje não sejam separadas que por de poucas horas de trem, naquela época cada região era dominada por algumas famílias ricas e importantes, com seus respectivos costumes. As mulheres venezianas portavam roupas mais pesadas e ornamentadas, e usavam sapatos com plataforma de madeira muito pesados se comprados ao padrão de hoje. Isso refletia a pouca necessidade de andar grandes distâncias diante da facilidade de locomoção em gôndolas. Já em Rimini, por exemplo, elas usavam outros tipos de tecidos, de outras tonalidades, sapatos e sandálias leves, e mesmo os acessórios eram diferentes. Assim, podemos ver claramente através da arte sutilezas que ilustram diferentes sociedades, culturas, costumes e histórias, o que, a meu ver, a torna ainda mais majestosa.
O papel da mulher na sociedade era claramente retratado nas pinturas: uma mulher casta, simples, que deveria se espelhar na virgem Maria, o grande “exemplum”. As obras que a representavam estavam cobertas de simbologia, e percebe sua ligação com a religião e seu papel de mãe – duas das grandes instituições às quais a mulher estava diretamente ligada. Em contrapartida, pinturas que representavam a Eva explicitavam o que as mulheres deveriam evitar: perdição, pecados e rejeição. Nessas pinturas, a Eva era representada em selvas escuras, cercada por elementos que denotam selvageria, hostilidade, marginalidade e perigo.

Museu do Prado - Madrid
A arte era extremamente valorizada como definidor de status e os homens, talvez por culpa pela sua inutilidade diante do parto, gastavam somas consideráveis para ter essas bandejas e quadros pintados por artistas reconhecidos, e incrustados em ouro. Existia com freqüência, principalmente nas casas das famílias ricas, uma decoração na parte superior das paredes chamada de spalliere repleta de alegorias e representações de mitos e histórias que retratavam modelos de comportamento a serem seguidos.
Um ótimo exemplo de modelo de conduta expresso na arte, repleto de simbologia, são os quatro quadros de Sandro Boticcelli retratando a história de Nastagio Degli Onesti, pintados em 1483.


Arte Inglesa e Holandesa do século XVII

Como mostrado no exemplo do retrato da princesa d’Este, fica claro a construção de uma personagem fictícia nas pinturas de retrato. Isso pode ser percebido em pinturas desse gênero no decorrer da história da arte, e eles nos permitem conhecer mais a fundo os costumes de cada época, as crenças e valores, além da história representada na arte.
Agora vejamos um outro exemplo em repleto de representações, em outro momento da história da arte: a arte inglesa da corte do rei Carlos I, na Inglaterra do século XVII.
Também nessa época, a arte era extremamente valorizada para representar a vida dos membros da corte, através de retratos encomendados de tamanhos surpreendentes. Os reis mantinham pintores, bem pagos e bem instalados, para serviço constante. O pintor holandês Anthony Van Dick me chamou a atenção em específico por um estilo muito próprio, muito belo e de fácil reconhecimento. Ele foi trazido à Inglaterra e em poucos meses foi nomeado pintor oficial da corte, com títulos de nobreza e premiações por exímio talento e capacidade de representar o rei segundo as vontades do mesmo, ao passo que outros pintores com mais tempo de serviço ao rei não tinham tal vantagem.
Ao observar as pinturas de Van Dick do rei pela primeira vez eu não podia imaginar que se tratava de um rei sem estatura e charme, conforme relatam os historiadores. Parecia-me um rei digno do título, se não por sua conduta, ao menos pelo seu porte. Mais tarde apenas pude descobrir que se tratava de estratégias do pintor, que massageava o ego de um rei que provavelmente não tinha noção do seu tamanho.
O que me encanta é novamente o tanto que se pode aprender e entender sobre uma determinada época, analisando tais pinturas, além, é claro, do meu gosto pessoal pelas técnicas, cores e formas. Além disso, por mais que elas sejam bem constritas no tempo e no espaço, não é difícil estabelecer relações entre essas pinturas e aquelas mencionadas anteriormente, nem que pelas diferenças de tratamentos, e pelas semelhanças em relação à iconografia e representação.


Outro pintor, já de outro contexto, que me vem à mente é o francês Edouard Manet, por sua inovação e técnica. Já em uma época afetada pelo advento da fotografia, ele não mais buscava o realismo fotográfico em suas pinturas, em termos de técnicas, nem os temas tradicionais aceitos pela academia. Ao invés de pintar uma mulher nua com tons “divinos” que a aproximavam de ninfas, com olhares distantes, juntos de outros elementos clássicos, ele favorecia contrastes mais grosseiros de tons e a colocava nua com o olhar que encarava o observador, em contextos mais reais e mundanos. Isso a trazia para a mesma esfera do espectador e trocava seu ar de deusa pelo de prostituta – figura presente mas não oficialmente aceita na sociedade parisiense. Isso pode ser claramente observada em sua conhecida obra “Olympia” – a qual faz referência à clássica Venus de Urbino, de Ticiano, tão admirada e exposta nos grandes salões de arte em Paris. Olympia, entretanto, não foi apreciada, mas sim rechaçada pela grande maioria da crítica e curadoria.
Em ambos os casos, tanto a clássica de Ticiano quanto a pintura do início do impressionismo de Manet, me fascinam à sua maneira, com suas representações e fundamentações opostas, em contextos diferentes. Ao observá-las sinto que tenho muito a ler e interpretar, e muito elas falam de suas respectivas sociedades, cultos e tradições – pelo endosso ou pela crítica.
Como eu mencionei anteriormente, a arte segue uma cronologia, em que os movimentos se influenciam mutualmente, e se desenvolvem. Por isso conseguimos ver resquícios da arte renascentista italiana em diversos outros momentos da história da arte, como, por exemplo, na arte de Van Dyck ou no impressionismo de Manet. Observe as pinturas:

Manet pegou de Ticiano, o qual pegou de Giorgione o gesto e a pose. Estabelece-se então claramente uma relação entre as pinturas, independentemente do salto de mais de três séculos que separa as clássicas Venus de Urbino e Dresden Venus de Olympia. As mudanças são claras, em termos de tratamento de imagem e mesmo de tema e abordagem.
Olympia foi um quadro que chocou o público, o qual alegou não ser digna de comparação com o grande mestre Ticiano. Convém ressaltar, entretanto, que ao abrir os olhos da Vênus de Giorgione, o próprio Ticiano gerou polêmica na sua época, uma vez que trocava a inocência da deusa adormecida por uma mulher consciente de sua nudez e do seu parceiro, cuja sexualidade feminina se transforma em impulso sexual. A mesma Vênus a qual fora considerada nos salões de Paris do século XIX uma grande obra-prima.
Hoje todas as três são grandes obras primas dos artistas do século passado, cada uma com suas particularidades e inovações.


Tudo bem até aqui. Não foi difícil ver e entender a arte, e a ligação entre as pinturas através dos séculos. A dificuldade em entender a arte começa com a arte moderna e se multiplica no desenrolar da contemporânea. Essa dificuldade não se deve apenas ao fim da supremacia pintura/escultura, quando novas formas e materiais são trazidos para o universo da arte. Pois mesmo comparando obras que envolvem os mesmos materiais, como tela e tinta, fica difícil estabelecer uma relação lógica entre as pinturas modernas e contemporâneas com as antigas. É essa dificuldade de entender a arte contemporânea que me motivou a realizar uma pesquisa para conhecê-la mais a fundo para concluir então se, de fato houve uma ruptura brutal na história da arte desde as últimas décadas, ou não. Essa questão se mistura à problematização sobre o que é de fato a arte, e a ausência de maiores informações impossibilita o observador leigo de estabelecer qualquer comunicação com a arte atual, uma vez diante de um emaranhado de materiais que não significam nada para quem ignora as qualidades da arte contemporânea. Imagino que muitos, assim como eu, não conseguem gostar daquilo que não entendem, e me parece ser um crime não amar a arte do meu tempo como amo qualquer outro tipo de arte.
Pois bem. Para entender o que é a arte contemporânea resolvi conhecer primeiro as suas bases, focando assim nos seus três pilares: Marcel Duchamp, Joseph Beuys e Andy Warhol.
Duchamp
Imagine o contexto do início do século passado no entorno da Primeira Guerra: violência, morte, epidemia, trauma de guerra. Aquela Europa, o grande exemplo de desenvolvimento, ciência, progresso, racionalidade estava completamente destruída, marginalizada. Entender o contexto é uma questão chave no entendimento das grandes mudanças que se instauraram na sociedade, e sobretudo na arte.
A partir dele fica mais fácil entender a arte de Marcel Duchamp, sua grande contribuição e influência no meio artístico. Duchamp inovou completamente com as obras que ele nomeou ready-made: objetos que ele comprava e designava como arte. Aos poucos, no início do século XX, ele desenvolveu as bases para o movimento artístico de grande difusão internacional da década de 1960, a arte conceitual. Seu primeiro ready-made foi a “roda de bicicleta”, a qual ilustra essa nova maneira de sentir, ordenar e compreender a realidade instaurada a partir da Primeira Guerra: uma obra em que a roda não serve para andar e nem o banco para sentar. Ele instaura a arte como idéia, em detrimento da representação do belo, que perdera todo o sentido.
Com os ready-made, Duchamp pedia aos observadores que pensassem no que definia então a singularidade da obra de arte frente à multiplicidade dos outros objetos. Ele endossa assim o pensamento de Theodor Adorno acerca da teoria estética: “Hoje aceitamos sem discussão que, em arte, nada pode ser entendido sem discutir e, muito menos, sem pensar”

Andy Warhol
Na década de 1950 surgiu a Pop Art, que atingiu a esfera artística como um raio pela sua divergência de estilo e temática. Tratava-se de um estilo de apreciação renovada da relação entre arte e vida cotidiana, e eram resultados dos impulsos evidentes nas obras do final da década de 1950: o interesse pelo corriqueiro, a disposição de abarcar o acaso e um novo senso do visual. Ela desconsiderava as elevadas concepções da arte abstrata, usava gírias, linguagens artísticas de quadrinhos, homenageava sereias hollywoodianas e não a virgem Maria. Ela enfatizava a idéia das obras de arte como mercadorias, e não poderiam deixar de ser tratadas como tal, da mesma forma que produtos em uma estante do supermercado. As obras pareciam depender das técnicas da cultura visual de massas. Acredita-se que, naquela época, Warhol foi o único preparado para receber esse novo estilo integralmente.
A base de sua atividade artística passou a ser então histórias em quadrinhos, rótulos de garrafas e latas de conserva, fotografias da imprensa popular e fotografias instantâneas de si próprio. Se a base dos objetos mudou do luxo para artigos de massas do consumidor, também mudaram suas técnicas artísticas e mesmo sua assinatura. Essa realidade foi, segundo críticos, uma ruptura radical.


Joseph Beuys
Ele ficou conhecido por suas idéias e estratégias artísticas, e pelo modo engenhoso de tratar os mais diversos materiais e técnicas, com uma capacidade espantosa de explorar todas as possibilidades de associações dos materiais.
A relação de Beuys com os materiais se deve a uma queda de avião da força aérea, após a qual ele permaneceu vários dias semi-congelado em uma montanha, sendo salvo por uma tribo e aquecido com cobertores de feltro e gordura animal, materiais que também o salvaram das queimaduras severas. Não é à toa então o uso constante de materiais como cobre, mel, ácido sulfúrico, parafina, sangue, ossos, animais mortos, e claro, gordura animal e feltro, em sua arte.
Beuys acreditava na importância da linguagem na sua arte, e era um exímio professor – nenhum outro artista havia lecionado tanto quanto ele. Grande parte do seu trabalho podia ser vista com uma instalação didática. Ele defendia alguns preceitos que iam contra o senso geral, como por exemplo, a idéia de que o artista não deve se apagar após o termino da obra, mas sim estar presente ao longo do processo de exposição. Beuys vai contra o “silêncio de Marcel Duchamp” e contra o seu conceito de anti-arte. Ao contrário de Duchamp, ele se propõe a desenvolver uma teoria para sua obra, ao invés de simplesmente expô-la no museu.


Além da Pop Art e da arte conceitual, outras formas e movimentos artísticos se desenvolveram ao longo do século passado e conhecê-los, agora, me parece fundamental para entender a arte contemporânea, principalmente devido ao seu hibridismo e ao grande leque de referências que encontramos na arte de hoje. Destaco também a arte minimalista, a Body Art, a Land Art e a performance.
A arte minimalista, assim como a Pop Art, também apresentava interesse pelo corriqueiro. O Minimalismo é considerado uma arte de negação, que reage à narrativa, ao academicismo, com aparência monocromática, engenhada e impessoal, em contraste com o alto teor emocional e expressivo das pinturas gestuais dos Expressionistas abstratos. Os artistas minimalistas procuravam evitar a aparência de envolvimento pessoal na arte de forma a nao desvirtuar a verdade objetiva da obra de arte como tal.
A Body Art, por sua vez, apresenta o corpo do artista como lugar onde se consuma uma batalha, o qual exibe resíduos de violência e rastros de trauma. Trata-se de uma arte muitas vezes excessiva, em que o artista desafiava a morte testando seus limites físicos. A Body Art surgiu nos anos 1960, no auge da escalada norte-americana no Vietnã, depois do Holocausto e das armas atômicas, em um momento histórico no qual predominavam crenças no fim do progresso, na ameaça de aniquilação e no fim do mundo.
Já a Land Art é a arte na natureza, cuja documentação é exposta em galerias. Algumas obras demonstravam uma disposição em manipular e alterar a paisagem em escalas gigantescas.
Muitas vezes ligada à Body Art e tão extrema quanto ela, a performance explicita a ênfase dada ao processo em detrimento do produto final. Ela explora então o efêmero e o transitório. Conforme o próprio nome diz, a performance é alguma ação executada pelo artista e experimentada diretamente por apenas alguns presentes, enquanto a grande maioria a conhece apenas através de documentações como vídeos ou fotografias.
Após realizar a pesquisa sobre arte contemporânea, era hora de colocá-la à prova. Visitei então dois museus de arte contemporânea, o Inhotim, em Brumadinho, e o Inimá de Paula, em Belo Horizonte, procurando estabelecer novas relações com a arte, entender melhor as motivações dos artistas e relacionar as obras de hoje com momentos precedentes à arte contemporânea.
A cada obra, consegui estabelecer relações com outros estilos artísticos e localizá-las claramente na história da arte. O hibridismo, o qual muitas vezes torna a arte contemporânea complexa e de difícil compreensão, fica muito mais tangível com uma dose a mais de conhecimento. A seguinte obra do americano Chris Burden, Beam Drop, se torna mais interessante para quem já ouviu falar da Land Art, da arte conceitual e do minimalismo.
Vik Muniz
A obra faz alusão à Pop Art e ao trabalho de Warhol, por também construir, ou mesmo desconstruir, a imagem que se tem associada ao mito da Mona Lisa. A obra-prima de Leonardo da Vinci, diferentemente de outras pinturas clássicas, tornou-se quase um elemento da cultura de massa, devido à sua grande difusão e fama. O número de referências a essa obra é infinito através dos meios de comunicação de massa como a internet. Muniz, assim como Warhol, dispõe-se de estímulos visuais do presente, do desaparecimento da singularidade pela repetição e fragmentação.
Muniz mistura elementos de arte elevada com imagens triviais da cultura de massas, sendo sua referência – Mona Lisa – enquadrada em ambas as categorias. Ao estudar sobre arte contemporânea, percebi o quanto ela é referencial. As referências são múltiplas, e essa questão fica clara também na obra de Muniz: assim como ele alude ao Leonardo da Vinci e ao Andy Warhol, também é fácil associar sua obra com Duchamp e mesmo com Beuys. Duchamp, ao desenhar um bigode à imagem de Mona Lisa, modifica a obra original e propõe novos conceitos e novas estéticas. O mesmo é encontrado nessa obra de Muniz, de mesma temática. Quanto à Beuys, sua relação com as potencialidades dos materiais possivelmente influenciou o artista Vik Muniz, uma vez que este também parece explorar a capacidade da geléia e da pasta de amendoim em representar uma mulher com o olhar mais incógnito da história da arte.

Olafur Eliasson
Acredito que o artista, através dessa obra, procura explorar as possibilidades dos materiais em questão, água e luz, assim como fazia Beuys. Eliasson explora as possibilidades de forma, maleabilidade e escultura da água líquida. Ele explora também a luz, através dos efeitos causados pela sua variação e intensidade.

Cildo Meireles
Outra questão que me chamou a atenção na obra é a interação do espectador com a mesma, amplamente explorada na arte contemporânea.

conclusão
Concluo também que meu gosto pessoal pelos diversos movimentos artísticos não são equivalentes simplesmente por serem todos denominados arte. Alguns estilos continuam causando mais fascínio do que outros e mais sensações de troca de informação. O que mudou foi a aceitação de alguns e um novo gosto pela arte de outros.
Assim, vejo que minha indiferença diante de artistas consagrados como Duchamp não existe mais. Ao entender melhor suas motivações e seu poder de inovação que contribuiu significativamente para desmistificar a imagem que se tinha do artista como gênio criador, dotado de exímio talento (da qual eu era adepta), percebo o quão importante foi a contribuição desse artista para a história da arte moderna e seu desenvolvimento. Conhecer então a arte como idéia, e analisar os contextos em voga, sem sombra de dúvidas contribuiu para diminuir a aversão que tinha diante de obras que fogem da figuração ou que não denotam uma habilidade tal que separa o artista dos demais incapazes de realizar tais efeitos sobre pedras ou telas. Assim, uma obra cuja idéia seja interessante mas cuja produção tenha sido simplesmente guiada pelo artista, pode não explicitar um gigante desafio de execução, sem deixar de ser arte, ou sem perder o seu valor. Pelo contrário, ela, quando compreendida pelo observador, pode ser alvo de grande admiração por outros fatores que não o belo propriamente dito, como por exemplo, a criatividade do artista, sua fonte de inspiração, suas idéias, sua complexidade, seu hibridismo e mesmo a reflexão acerca do contexto contemporâneo do século XXI. Conforme mencionado anteriormente, o apelo do belo na arte de hoje é inclusive contraditório. Além disso, as obras são enobrecidas pela interação com o observador que elas favorecem. Sendo a participação do espectador parte significante do processo de construção da obra, seja através de sua observação ou imersão na mesma, os processos de troca e de comunicação com a arte ficam inclusive mais intensificados.
Talvez a arte contemporânea, por ser extremamente complexa e aberta, fique mais clara no futuro uma vez que, ao olhar para trás, é mais fácil descrever uma história e um contexto do que identificá-lo no presente, enquanto ele ainda está em fase de formação e adaptação, recebendo influências variadas e se multiplicando.